Meu filme do ano: Tár
Luana Lima06 mar 2023.cinema/tv

Meu filme do ano: Tár

Lydia Tár é um gênio da música, que, no auge de sua carreira e influência, tende a misturar relações profissionais com interesses pessoais.

No dia 12 de Março vai acontecer a cerimônia de premiação do Oscar 2023. Alguns anos atrás eu comecei uma tradição de assistir o máximo possível dos filmes indicados, pelo menos os indicados a melhor filme e melhor atriz, que são as categorias principais para mim. Quase sempre falho em cumprir o que pretendia porque são muitos filmes e sinceramente fico com preguiça de ver.

Até o momento só me faltam assistir dois dos indicados a Melhor filme, Avatar: O caminho da Água, porque devo ser uma das últimas pessoas do mundo que nunca vi o primeiro Avatar e não tinha ânimo de assistir um filme de 3 horas antes de outro filme de 3 horas, e Women Talking, porque esse filme não estava disponível em nenhum lugar.

Ou seja, assisti 8 dos filmes indicados a melhor filme, gostei da grande maioria dos filmes, o que é um tanto raro, mas entre esses 8 tenho o meu favorito e é dele que irei escrever um pouco sobre.

Por que Tár é o meu filme do ano?

Durante os anos em que eu assisto filmes indicados ao Oscar sempre existe uma quota de filmes indicados que são os famosos Oscar baits, esses filmes são conhecidos por serem feitos exclusivamente para obter indicações ao Oscar, eles costumam ter alguns padrões e são em sua maioria muito pretensiosos e para mim são chatos. Com o tempo comecei a saber identificar eles e no começo achei que Tár seria só mais um desses, porém Tár é muito mais que isso.

O filme é sobre Lydia Tár, uma maestrina/compositora de música clássica, sendo a primeira mulher da Filarmónica de Berlim, uma mulher cheia de realizações profissionais, um verdadeiro gênio da música. Lydia, uma mulher lésbica que veio de uma família comum, certamente teve que se esforçar mais que o normal para chegar onde chegou, no auge em um meio maioritariamente masculino, conservador e elitista.

Já nas primeiras cenas de Tár eu estava completamente vendida, consequência clara da atuação fenomenal da Cate Blanchett, o filme foi feita para ela e ela sustenta o filme inteiro, sem sombra de dúvidas uma das melhores atuações que já vi na vida.

Não entendo nada de música clássica, meu único contato com esse tipo de música foi uma visita que fiz ao teatro municipal de São Paulo e usei do pretexto de estar ocorrendo ensaios da orquestra sinfônica de São Paulo para conhecer o interior do Teatro, mas como devem prever não me concentrei na música. Mas apesar disso é possível entender a paixão da protagonista sobre o que ela faz, a segurança em que ela fala sobre a música me fez concordar com absolutamente tudo que ela diz, independentemente se for fato ou não, mas se Tár falou é verdade.

O que nos leva a cena da aula master, nela Tár tenta convencer um estudante de música que não gosta de Bach que a arte é superior ao artista, a verdadeira arte é capaz de quebrar as barreiras do tempo e da moralidade, independentemente de quem foi Bach na sua vida pessoal isso não anula em nada a importância de sua obra, até porque os tempos mudam, mas a arte não, a arte é uma constante.

Como estudante de arquitetura eu entendo o quão necessário é os estudos da história da arte, assim como no meio da música erudita os grandes nomes do passado da arquitetura é composto 99% por homens brancos, cujos qual eu também não me identifico, e que se você for pesquisar sobre suas vidas privadas provavelmente vai achar atitudes reprováveis nos tempos atuais. Porém, é impossível negar a importância da obra dos mesmos para a história da arquitetura e no final do dia é a obra e a visão de arquitetura deles que realmente importa, e não o autor.

Mas é possível separar a arte do artista?

Essa é uma questão mais complexa, porque a obra não existe sem o artista e de algum jeito a obra representa a visão de mundo do artista em questão, e se essa visão for deturpada a obra pode carregar um pouco desse peso. Porém, para mim na maioria das vezes a obra se sobressai ao artista e se torna algo muito maior que ele, com impacto que perdoaram por décadas ou séculos, essas são as grandes obras de arte, que são e devem ser estudadas pelas futuras gerações, independente que quem foi o artista em sua vida privada.

Darei um exemplo arquitetônico um pouco grosseiro, vamos levar em conta Oscar Niemeyer, o Oscar era orgulhosamente ateu. Isso não o impediu de fazer grandes obras de arquitetura religiosa. Porque a arquitetura, ou a arte, é o que perdura e apesar de não existir sem o artista ela transcende o mesmo, ou seja, essas obras não existiriam sem o Oscar, mas elas sobressaem o mesmo.

As relações de Tár

O grande tema do filme são as relações de poder, Lydia estava no auge do seu poder, e acaba usando dessa sua grande influência para criar relacionamentos questionáveis com as suas “favoritas”. O filme deixa de forma ambígua até onde essas relações podem ter ido, mas Lydia acaba criando elos perigosos que vão suceder em um acontecimento trágico futuro.

Quando suas ações emergem ao público, vemos Tár perder rapidamente tudo que tinha conquistado. Diferentemente de seus antepassados que tinham atitudes similares, Tár vive em um mundo modernizado em que o linchamento público e a cultura do cancelamento estão em alta, e o pior ela é mulher.

Não quero defender Lydia Tár, ela tem atitudes reprováveis, e que mereciam ser punidas, mas em grande parte eu torcia por Tár, não pela pessoa Lydia Tár, mas pela obra de Tár que se foi perdida.

O filme termina com uma cena cómica e sem responder às perguntas que coloca. Mas será que Lydia Tár é uma pessoa terrível ou apenas uma pessoa humana, com defeitos e qualidades como qualquer um de nós?

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Luana Lima

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Olá, eu sou a Luana e sou a criadora desse blog, espero que você tenha gostado desse post!! 😽


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